Carta Aberta de um Torcedor Pontepretano à Nação Alvinegra
- O Macaco Campineiro
- 1 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Hoje, duas semanas após o rebaixamento para a Série C, consigo, ainda que com a cabeça longe de fria, organizar algumas ideias. Pois é, caímos. Estive no jogo contra o Sport, naquela humilhação que todos nós preferiríamos esquecer. Naquele momento, estava tomado pela revolta, mas, no fundo, acho que todos já sabíamos que o rebaixamento era inevitável. Alimentamos a esperança até o último segundo, como qualquer apaixonado faria. E foi doloroso testemunhar o sofrimento de quem estava lá. Mais doloroso ainda foi ver a revolta da torcida reprimida de forma tão violenta pela polícia.
A minha ficha caiu no dérbi. Não vencer o clássico em casa, com o estádio lotado e o adversário na lanterna, foi fatal. Mas sejamos francos: a Ponte não caiu no dérbi, nem no jogo contra o Sport. Nossa queda foi o resultado de um projeto de destruição que vem de dentro para fora.
Nem preciso gastar linhas aqui falando sobre a incompetência do nosso presidente. O “Eberlináceo”, como já vem sendo chamado, é parte desse processo. A única coisa que consigo concordar com esse narcisista é que o Majestoso deve continuar a ser a casa da Ponte. Fora isso, sua gestão é mais um sintoma desse ciclo autodestrutivo que aflige não apenas a Ponte, mas muitos clubes não hegemônicos no futebol brasileiro.
O problema é estrutural. A falta de dinheiro leva a campanhas medíocres, o que afasta a torcida. Eu frequento o Majestoso religiosamente desde 2007, e a média de público sempre ronda os mesmos 3500 macacos. Quem vai aos jogos sabe: são sempre os mesmos rostos, nos mesmos lugares, discutindo as mesmas mazelas do clube. É como se estivéssemos presos em um ciclo de decadência.
Ainda assim, o amor pela Ponte nos mantém ali. “Nas boas, te quero; nas ruins, te amo” – essa frase sempre ressoa em momentos difíceis como este. Mas não podemos viver só de amor. Precisamos de algo mais: de organização, de propósito e, sim, de um pouco de ódio. Não um ódio destrutivo, mas aquele que nos impulsiona a lutar por mudança. E essa mudança passa, necessariamente, pela reconstrução da Ponte.
Vi os dados de público dos times nesse campeonato, e ficou evidente que os times que subiram tiveram maior presença de torcida. Talvez a torcida tenha comparecido mais porque os clubes estavam bem? Acho que sim. Mas me parece uma correlação muito clara entre apoio da torcida e o ciclo de ascensão dos clubes.
Bem, é verdade que a torcida, por mais que apoie, não pode entrar em campo e jogar pelos jogadores. Porém, eu acredito que um projeto de reconstrução da Ponte Preta PRECISA passar por uma reconstrução do povo para o povo. Ora, nossa história foi marcada pela presença da torcida construindo nosso estádio, nosso maior patrimônio. Ou, caso contrário, caminharemos para o desaparecimento.
A solução não está nas mãos de empresários ou gestores que enxergam o futebol como uma empresa qualquer. Nossa saída está na coletividade, no controle popular, no envolvimento direto da torcida.
Proponho que lutemos pela popularização das arquibancadas, pelo barateamento dos ingressos, pela derrubada da setorização, especialmente da Geral. Precisamos estimular a participação ativa das torcidas organizadas e independentes. E, acima de tudo, precisamos devolver o clube às mãos de quem realmente o ama: a nação pontepretana.
O caminho é árduo, mas a alternativa – a conversão da Ponte em uma SAF e o consequente abandono de nossa história – é ainda mais sombria. Não podemos deixar que o legado de um clube centenário se perca. A hora de agir é agora. A mudança começa conosco.
Que o futuro seja alvinegro, popular e coletivo.
Termino, por fim, citando a musica de Erasmo que parece refletir meus pensamentos de agora:
“Eu cheguei de muito longe
E a viagem foi tão longa
E na minha caminhada
Obstáculos na estrada, mas enfim aqui estou
Mas estou envergonhado
Com as coisas que eu vi
Mas não vou ficar calado
No conforto acomodado como tantos por aí
É preciso dar um jeito, meu amigo
É preciso dar um jeito, meu amigo
Descansar não adianta
Quando a gente se levanta quanta coisa aconteceu”
Um torcedor apaixonado.
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